sábado, dezembro 04, 2010

A.

E ele sentiu aquele órgão, comumente conhecido por coração, alterar-se e acelerar-se. Quinze anos? Não, mais de trinta. Mas sentia-se aos quinze.Na verdade, aos quinze não poderia sentir-se assim. Mas enfim, o beijo dela tornou-o, se não melhor, pois nem um beijo pode ser deus, mais humano. E olhou seus cabelos negros e desejou nunca deixar de desejá-los. Mas, pela segunda vez, a vida é longa e a alma é negra e já queria saber que esse amor seria curto.Ao mesmo tempo, lembrar-se daqueles olhos tão meigos e desafiadores era sentir o sangue disputar a primazia do dia, do sol, da primavera. Os lábios...Ah, poderia, naquele longo segundo, morrer, e imaginava-se entrando no Olimpo e sentando-se com os deuses só pelos lábios...só pelo beijo.
Tocou o relógio, e o mundo voltou à sua órbita.Lentamente, os astros continuaram sua rota silenciosa, cuidadosa pelo universo. E olharam a hora. Era tarde,pelos padrões humanos. E a deixou numa esquina sem nome, sem data, sabendo que todos os dias sem a deixá-la, sem vê-la, seriam dias que estaria ali, esperando pela volta dela. Ali, em qualquer esquina, ilusionando ser aquela, ele estaria para sempre, esperando pelo beijo que corrompeu o tempo, o espaço e seu coração.

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