Ela imagina que ninguém, além dela própria a vê. Ela sabe que muitos a olham, mas olham o que? Olham um invólucro ou o chapéu do Petit Prince, sem conseguir ver o que ela sente ser de fato ou o elefante. Esse olhar viciado vai dando-lhe uma carga de tristeza que seus ombros começam a não suportar. Ela quer rir, ela quer dançar e ela quer cantar, mas aos olhos dos outros ela parece só uma garota com palavras difíceis e referências esquisitas. O outro é uma grade, e uma palmatória.
Mas ela não imagina que, ao dizer que precisa lavar os copos, ela ergue um feitiço contra o tempo presente, contra a vida cronológica, e cria seu próprio mundo. De lá, do alto de sua torre de margaridas e borboletas, ela lança uma corda invisível. Esperando, como todos nós, que alguém finalmente enxergue e escale a torre, a levante pelo colo e diga: estamos em casa.
Talvez gérberas e morcegos fossem mais apropriados. E talvez devesse ser instalado um elevador. Mas para isso devem enxergar primeiro o elefante e, convenhamos, todo elefante é interno, visceral, profundo demais para ser facilmente captado. Ao ser desenhado para que possam vê-lo, o bicho perde o encanto...
ResponderExcluirElevador? Deixem que mereçam...
ResponderExcluirTem razão. O êxito é mais satisfatório quando grande é o esforço, certo? Mas não se pode ser cruel.
ResponderExcluirBem, não sempre.
Não, a crueldade proposital é falta de auto-estima. A crueldade não-proposital é falta de senso das pessoas que se interpõe nos nossos passos.
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