domingo, dezembro 12, 2010

Babilônia

Era o tempo dos discursos prontos. Não importava tanto e sim o jeito como se movia e a disponibilidade em aceitar as coisas menos ortodoxas possíveis. Jovens assumindo todas as suas taras e complexos, procurando qualquer foco de fumaça ou sons de aspiração, entre grupos e grupos. Claro, a música tinha que ser a mais tosca e explicitamente sexual possível. Claro, alguém decidiu colocar um tipo de luz que hipnotizaria um elefante. E os corpos, num fluído incessante entre a sala e um quarto decorado com camisinhas na porta, fingindo um riso.
Ainda, era o tempo das falas mecânicas. Ninguém de fato dizia nada. Tudo era motivo para beijos e carícias. Travestis dançando em grupo, um árabe falso mostrando a bunda, duas meninas batendo-se mutuamente com chicotes e palmatórias. Falsos homens descobrindo-se homens; homens descobrindo-se falsos; mulheres descobrindo suas peles em cima de uma mesa que iria cair e quebrar estrondosamente.
A tristeza era, no entanto, a mesma. Não se deixa um câncer em casa mesmo quando se vai olhar o sol ou comer frango no domingo com a família. A tristeza amarrava suas mãos e o impelia ao carinho menos desumano, às palavras mais próximas da infância, aos beijos que olhavam nos olhos antes. Mas era só uma forma de, ali, também não estar. Não haveria salvação para ninguém e sua sinceridade momentânea seria menos do que uma bóia no grande naufrágio que logo se abateria sobre aquele lugar.

Segurou, com força, nas mãos de dedos longos e finos e conseguiu soltar a única fala que sentiu vir do coração: "Que venha a vingança do Senhor".

12 comentários:

  1. Amigos que gostem de tênis: vocês estão expulsos desse blog...

    ResponderExcluir
  2. Que porra é essa? Elogio/merchandising? Prefiro o silêncio (comentário de sedentária de corpo e alma).




    Gostei do conto — se não gostasse não seria o seu blog.

    ResponderExcluir
  3. É spam. Mas como é divertido e totalmente sem noção, decidi manter. O próximo será sobre torradeiras...
    Se você não gostasse do conto o blog seria só um monólogo triste...

    ResponderExcluir
  4. HAHAHA Tens razão.





    Quanto ao blog, mentira tua — somos todos nada, mas conheço um nada, amigo teu, admirável, que se acha um nada, porque é um pouco de Alan, mas não deixaria que fosse um monólogo triste...

    Mas estou aqui. As coisas são o que são, e algo como isto aqui, definitivamente, não é um monólogo. Isto aqui salva 35% de meu ser (sem esquecer de que não-sei-quantos-por-cento são pura água).

    ResponderExcluir
  5. Esse Alan é do "Two and a half man"? Ou minhas referências estão doidas?

    Quanto ao ser nada,não se esqueça do paradoxo: "À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

    ResponderExcluir
  6. Hey! Podem parar os dois com essa história de "Alan"!

    ResponderExcluir
  7. Bêbado besta! Você, por ser exatamente UM BÊBADO BESTA, me apelidou de Alan. O pior é que justificou e riu. Agora, não lembra.

    ResponderExcluir
  8. Só os "Alans" lembram o que se fala durante as bebedeiras...Silogismo. Ergo...

    ResponderExcluir
  9. HAHAHA

    Não terei essa capacidade. Eu acho que ganhei essa mania de apelidos porque sempre ganhei apelidos demais. Só que os meus não eram tão engraçados (ou talvez fossem, dependendo do ponto de vista): "Emily Rose" não é agradável, é? Fazer o que?

    Vocês só prestam atenção ao que não presta!

    ResponderExcluir
  10. E sonhos sempre são mais do que posso suportar.

    Tem a ver com a realidade paralela da qual falei.

    ResponderExcluir