sábado, dezembro 04, 2010

Sublime

Notava, sem grandes êxtases mas satisfeito, que os anéis de fumaça que expirava estavam cada vez mais redondos e perfeitos. O sol que entrava pela janela atrás de sua cabeça ajudava naquele quadro. Com o pé conseguiu ligar o som, e imediatamente um solo de trompete completou aquele momento. O que mais se poderia querer no mundo? Olhou para o lado da cama e pensou em muitos corpos que poderiam ali estar. Sabia, entretanto, que em determinado momento eles se moveriam e desmontariam aquele frágil estado, em que nada existia além da cama e dos anéis de fumaça. Sentiu-se então inspirado para escrever uma história edificante. Daquelas que a leitura comove tanto, que fazem casais se olharem como se fosse a primeira vez; solitários abrir a janela e respirar fundo o ar; crianças abrirem um longo sorriso faltando, talvez?, um dente. Se ele pudesse manter por mais dez minutos aquela sensação...
Correu ao computador e esperou com impaciência todas as páginas e programas se abrindo e fechando. Finalmente começou a teclar. A primeira frase saiu fácil: "O sol sorriu virginalmente para todos naquele dia. Sem restrições, seus raios entraram em cada coração, em cada alma e abraçou-os com força, maternalmente..." O celular tocou. Foi atender, acendendo outro cigarro. Era uma voz feminina, perguntando se gostaria de beber algo mais tarde.Aceitou, foi se banhar e se lembrou de digitar uma outra coisa antes de salvar o arquivo: " Mandar o terno para a lavanderia".

Um comentário:

  1. Escreveu quatro contos em um dia? Tá produzindo bem, hein? Você está concorrendo ao prêmio Camilo Castelo Branco?

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