quinta-feira, junho 07, 2012

MAGNUM OPUS


Já há muito não se erguem os brados.
Já não se escrevem velhos doces versos,
Não pousas mais para os tristes quadros,
Estás sozinho e em si mesmo imerso...

Do tempo que a mão a ti se erguia,
restou somente em recuo a sombra ,
do susto, como nunca antes se via,
um som distante que não mais ressoa...

Estás sozinho, em solene descaso,
pois de ser, tornou-se somente obra
de um olhar, que só te vê todo raso.

Talvez antes não fostes, nem agora,
de ti nada restará, estás no ocaso,
de uma vida que não deixou-te sobra.

segunda-feira, junho 04, 2012

SINA

O cão gane, atropelado,
Pelas rodas inexoráveis do caminhão,
 E nós, aboletados em massa disforme,
Nem notamos.
Amaldiçoamos o céu sem nuvens,
E a hora que insiste em alongar.

Um grita “está vivo, olha”,
E aponta para um algo em deformação,
É feia a carne sem pele,
É estranha a víscera em flor.

Outro se ri “parece nóis”,
E ninguém entende até que explique:
“se contorcendo para viver”.
Um tira o chapéu em respeito,
Outro come mexerica e joga as cascas.

E eu, que olho os céus em contrição,
Choro por dentro, desolado e em dor,
E pergunto às nuvens em formação,
“está feita a vossa sina, Senhor?”
Não soa som, nem soa trovão,
Mas ouve-se, entre risos, entre os meus
“eita nóis, morre logo, criatura de Deus”