sábado, agosto 13, 2011

RESPOSTAS

  Dançar tango em Paris.
  Comer ravióli em Lisboa,
  Jogar rosas no Nilo,
  sentar em frente ao Coliseu.

 Por que meus demônios são noturnos?
 Por que a insatisfação esgueira-se no silêncio?
 Por que o pulsar do coração é insistente?
 Por que criamos deuses se somos pó?

 Andar de mãos dadas em público.
 Escrever sonetos alexandrinos.
 Amar com palavras de conforto.
 Amar com gestos de símio.

 Quando será que nada mais será sensação?
 Quando o breu será meu irmão?
 Quando os passos irão para a distância?
 Quando nunca mais haverá verão?

 Ter conta em banco exclusivo.
 Falar idiomas com sorriso.
 Usar os pronomes com exatidão.
 Lembrar de datas particulares.

 Quem enxerga o que eu não sou?
 Quem iniciou a mentira?
 Quem revelou a verdade?
 Quem abriu a boca e se comunicou?

 Calcular os passos com precisão.
 Almoçar com máscara e não sujar de macarrão.
 Escolher nomes para os que virão.
 Ler a mente alheia e responder de prontidão.

 O que justifica a lua?
 O que se faz em nome do infinito?
 O que é a morte?
 O que sou?

 E tudo que ela me pede
 é que eu acaricie suas costas,
 antes de dormir sorrindo.

 E responde todas as perguntas,
 mesmo as que ainda não fiz.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Paisagem

    Sentado em uma mesa de bar,
    contando minhas pílulas da felicidade,
    sabendo de antemão,
    que as horas se passam em vão,
    que os risos movidos pelo álcool,
    e as mãos que se entrelaçam,
    logo irão acordar para o dia,
    e para a vida que chamamos de real.

    Saio em direção a lugar nenhum,
    pois aonde vá sempre encontrarei,
    um espelho que possa reconhecer,
    a imagem que criei de mim,
    forjado em mentiras vaidosas,
    e palavras que encontro,
    quando sinto meu ventre rastejar pelo chão.

   Amanhã ou depois,
   e ainda depois,
   e mais um pouco (ou muito, sabe-se lá)
   usarei as palavras que venho treinando,
   como um cão que recebe seu osso após um salto.
  Encontro-as entre o intervalo do sorriso sem sentido,
  e dos cálculos mentais de quanto me renderão.

 Aprendi com as mãos calejadas e os pés em sangue,
 que o que sou não importa.
 O quanto sonhei e o quanto quis que tudo
  fosse feito entre soluços de um coração apaixonado,
  pelo Outro, por algo que fizesse mais sentido,
  do que a propaganda que passa na televisão,
  nesse exato momento.

  Bonitos. Sorridentes. Felizes?
  E o que é a felicidade, afinal?
  Eu, que li e leio páginas amareladas de sons distantes,
  que já rezei tantos nomes,
  e comprei alguns cristais,
  e tentei de todas as formas entender a roda do mundo,
  não saberia responder qual a equivalência entre o que se chama de felicidade,
  e um olhar que honestamente tente me confortar.

  Olho o relógio tentando segurar os ponteiros de forma mental,
  quem sabe? roubar do tempo e do mundo o que resta:
  essa mesa, essas mãos entrelaçadas.
  Mas o ponteiro é como o arauto prometido,
  disfarçado e cantando entre diversas religiões,
  que nunca prometeram arrancar de nós,
  o vício pelas lágrimas alheias,
  e a satisfação em sentir que os outros sçao outros.

  Mas o amanhã é logo ali,
 e entre a dissimulação e a sinceridade,
 sei que agrada a todos a segunda:
 somos vaidosos de sentirmos que
 outros se esforçam para nos enganar,
 já que afinal, não entenderíamos ninguém mesmo,
 se usassem de palavras que significassem a verdade.

 Verdade? enquanto a minha paisagem são meus pés,
  contorcendo-se para cavar a própria cova,
  outros olham para si,
  satisfeitos de saberem que,
  depois de amanhã,
  o que restará é o nada e que somos todos
  seu pai, sua mãe e seu filho.