Antes do mar, da Terra e Céu que os cobre
Não tinha mais que um rosto a Natureza:
Este era o Caos, massa indigesta, rude
E consistente só num peso inerte.
(Metamorfoses, de Ovídio)
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se
anos.
(Uma Galinha, de Clarice Lispector)
Há tempos, e numerá-los não se poderia,
as contas se inverteram: agora é sempre
um a menos e não a mais.
Há-de zerar-se, sempre.
Noto que os sorrisos sumiram,
ou sempre que surgem
estou olhando na direção errada.
Há-de amargurar-se, sempre.
Algo dentro de mim se quebrou,
da estirpe divina ou sangue da terra,
já não sei-me em mim mesmo.
Há-de fugir-se, sempre.
E os amigos, que são deles?
Quando a estrada fez a curva
que os tirou da minha vista ansiosa?
Há-de perder-se, sempre.
E quando o leite azedou?
E as plantas secaram?
E as crianças cresceram?
Há-de dormir-se, sempre.
Dizer o futuro é, agora,
ao contrário de há muito,
ter a certeza.
Há-de findar-se, sempre.
E "nada há novo debaixo do sol". Agonia, em tercetos, é coisa sagrada.
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