fingindo o barulho que distrairia das lágrimas.
Um fez-se em cantigas, excomungando,
Um fez-se em cantigas, excomungando,
inutilmente, do peito a dor.
Levou-se pelas estradas da música
para o espaço da infância,
já em prisma borrado, sépia de uma memória
danificada por pedras desavisadas.
Deixou-se carregar pela melodia antiga,
para a cama de retalhos cerzidos à serões,
sacrifícios, soluços engolidos.
Era da mão da mãe
a lembrança que queria em pele,
e não distante.
Das mesas em que as cadeiras ainda se ocupavam
de corações virgens, intocados ainda
pelo o que não sabiam que viria:
o dia da mãe virar a esquina do escuro.
Outra fez-se intérprete de imagens
Outra fez-se intérprete de imagens
que ninguém mais enxergava.
Pôs as mãos no papel e traduziu a neblina,
o fundo da garrafa, a lua em forma de pão.
Alimentou-se por um tempo, sem postar mesa,
sem arrumar pratos.
Quieta, aérea e diabólica,
escreveu os símbolos que perderam-se nas trilhas
de coelhos que pularam em buracos,
na pena brilhante do último albatroz,
na calça puída do homem que abre a janela
defronte à Tabacaria.
Em torno, os ruídos arrastados,
do Tempo esperando, pacientemente.
A comida esfriou.
O leite azedou.
Não se falou mais,
em língua permitida
ou em gestos de aproximação.
A seu modo, cada um deu o boa-noite
e cada um preparou seu próprio prato,
sua própria recepção ao Tempo.
Ninguém mais comeu.
Apesar de belos, este e o anterior, temo dizer que me parece que os textos funcionaram melhor em prosa poética que em verso.
ResponderExcluirTambém achava... mas colocar em versos obriga a uma operação diferente de posto em prosa, não parece? Em prosa, o grilo falante da formação cultural no diz que deve-se chegar, com alguma coesão ao fim. Em versos, a coesão se dá por outros fatores, menos racionais. E nem me parece um poema muito racional e sim um bando de imagens em torno de um espaço: a mesa vazia.
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