quinta-feira, maio 31, 2012

AO TEMPO DO ADEUS

No tempo das palavras, a infância era a lei: 
previa-se a chuva e saia-se às ruas. 
Sabia-se o cheiro do chá 
e sentava-se às mesas para a espera.

Escrevia-se o obscuro e entendia-se o imediato. 
Todo tempo tem sua finitude e o nome 
Tempo faz-se da noção dela. 
Chegou a nossa.
Adiada pela procura 
das últimas palavras; 
queríamos que fossem 
abraços e afagos 
de quem vai pra nunca mais. 

Queríamos as palavras-fotos, 
para pô-las no bolso do casaco, 
e lembrarmos de onde saímos. 
Queríamos o adeus 
tantas vezes implícito no olá, 
já desejoso de se esvair.

Descobriu-se o tempo das pauladas. 
A lei é a da pele, do movimento, do respirar. 
Adeus dado, fazemo-nos orfãos parricidas.

Pois o tempo é sempre agora, 
sempre sensível, sempre líquido. 

E já andamos agora, fora desse espaço, 
com as fotos, os abraços, a memória, 
desde sempre lembrando-nos, 
aos risos, 
de que sempre haverá novas palavras a serem ditas,
descobertas e finalmente, preenchidas de novos sentidos. 

E nos esvaímos então no adeus, 
com tanto olá implícito.

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