segunda-feira, junho 04, 2012

SINA

O cão gane, atropelado,
Pelas rodas inexoráveis do caminhão,
 E nós, aboletados em massa disforme,
Nem notamos.
Amaldiçoamos o céu sem nuvens,
E a hora que insiste em alongar.

Um grita “está vivo, olha”,
E aponta para um algo em deformação,
É feia a carne sem pele,
É estranha a víscera em flor.

Outro se ri “parece nóis”,
E ninguém entende até que explique:
“se contorcendo para viver”.
Um tira o chapéu em respeito,
Outro come mexerica e joga as cascas.

E eu, que olho os céus em contrição,
Choro por dentro, desolado e em dor,
E pergunto às nuvens em formação,
“está feita a vossa sina, Senhor?”
Não soa som, nem soa trovão,
Mas ouve-se, entre risos, entre os meus
“eita nóis, morre logo, criatura de Deus”


Nenhum comentário:

Postar um comentário