quinta-feira, abril 12, 2012

  Queria nunca mais escrever nada que tivesse um "eu". Mas também não tenho a técnica refinada o bastante, nem o temperamento generoso, para narrar algo como se fosse um rapsodo. Enfim, o que faço com as palavras ultimamente é rodá-las, de um lado ao outro do cérebro, esperando ouvi-las ou vê-las. Nesse exercício, meu corpo ainda se torna menos diapasão e mais o muro seco e sem reboco, a cruzar de ponta a ponta uma rua. Sadisticamente, ergo esse muro-eu quase alto o suficiente para tampar qualquer visão, deixando uma fresta em que se vislumbre algo parecido com uma luz. Não se pode ver nada, no entanto, só o que parece algo colorido e vivo. Alguns chamarão de pré-poesia. Eu chamarei de epifania cíclica do fracasso deste eu que insiste em querer ser o filtro de si mesmo. Por isso, agora faço puro escarnio deste eu que vos fala. Assim, quem sabe, me encontro novamente.

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