sexta-feira, julho 08, 2011

História sem nexo

  A noite era por demais silenciosa para que houvesse gritos. Mas haveria lágrimas. Haveria palavras bem construídas, emplastros em forma de abraços, desejos sinceros de que a estrada estivesse sem perigos. Mas são as lágrimas que contam a história:

_ Não sirvo para ti.
_ Ninguém serve.
_ Sirvo ainda menos pois sei que sirvo somente para mim, e mal dou conta do que sou.
_ Nunca te pedi.
_ Todo o teu ser: teus olhos, teus suspiros, teu sorriso. Eles me pediram. Não posso te dar.
_ Então, adeus.

 Mas a noite era mais real do que as palavras podem recriar e as lágrimas também. Elas pedem a realidade do chão, a rudeza da dor e não um esteticismo cruel:

_ Acho que não vai rolar mais...
_ O que aconteceu?
_ Sei lá, nem eu sei direito..mas não tá rolando...
_ O que você quer de mim?
_ Nada, só quero que você seja feliz.
_ Então, adeus.

 Não há história sem um nó, nem relato sem emoção. Mas há ainda a história das lágrimas, que aqui serão contadas entre outras, pintadas de palavras que fingem que compreendem mas se assustam quando se pronunciam:

_ Não chore...eu queria que as coisas fossem diferentes. Que eu fosse diferente. Que o mundo fosse diferente. Mas o que sou só te levará, sempre, para essa mesma fala que dirás no fim...
_ Qual fala?
_ Que sou só um reflexo pálido e fugidio de possibilidades que escureço com minhas próprias mãos.
_ Nunca falaria isso...só não entendo o que aconteceu.
_ Aconteceu o que acontece todos os dias e continuará acontecendo sempre: queremos saber que seremos velados por alguém que viu nosso rosto sem máscaras.
_ Eu vi teu rosto.
_ Você viu o que eu quis que você visse: alguém melhor, um projeto que nunca levaria à cabo, uma intenção sincera com ausência de vontade verdadeira.
_ Então é assim? Adeus?
_ É...
_ Nem vai mentir pra mim? Dizer algo pra aliviar essa dor?
_ Um dia você vai entender...eu não entendo, só reproduzo algo que os milênios insistem em gravar.
(Lágrimas. Verdadeiras. De alguma forma divinas. Irmãs da nossa patética força divina em acreditar em algo além de nós)
_ Preciso ir...
_ Não vá...
_ Eu vou...

....

  O silêncio diz: és só um reflexo pálido e fugidio de possibilidades que escureces com tuas próprias mãos.

 O sol chegando diz: mas nunca saberás, como nunca saberemos.

Um comentário:

  1. (Lágrimas. Verdadeiras. De alguma forma divinas. Irmãs da nossa patética força divina em acreditar em algo além de nós)

    Seu chato! Rsrsrs.

    P.S.: I've already felt this way before...

    ResponderExcluir