sábado, abril 23, 2011

Brilho fugaz no canto de um espelho

  Se da vitrola, espera-se o abraço conhecido,
  se do bocejo, sabe-se ainda vivo,
  se na pele a dor do outro ainda existe,
  porque não se olha mais no espelho?

  Ainda há muitas lágrimas,
  sem autoria e sem fiador,
  esperando que as vistam de vistas menos
  invisíveis, então barrocas.

  Deve haver, agora mesmo,
  um riso sórdido elevando-se
  entre os passos que caminham em círculos,
  ali, no formigueiro.

 Uma ou outra imagem que justifique,
 o cinismo, a desesperança, o desapego.
 Elas se formam aos milhares,
 em cada gesto bem intencionado de vida em transe.

 Mas ao se olhar no espelho,
ele se transforma, por hora,
em janela de um céu, que
mesmo estilhaçado,
descobre um raio de sol
e cega os olhos para
os outros,
que afinal,
nunca estiveram aqui,
enfrentando o velho olhar.

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