Sentado em uma mesa de bar,
contando minhas pílulas da felicidade,
sabendo de antemão,
que as horas se passam em vão,
que os risos movidos pelo álcool,
e as mãos que se entrelaçam,
logo irão acordar para o dia,
e para a vida que chamamos de real.
Saio em direção a lugar nenhum,
pois aonde vá sempre encontrarei,
um espelho que possa reconhecer,
a imagem que criei de mim,
forjado em mentiras vaidosas,
e palavras que encontro,
quando sinto meu ventre rastejar pelo chão.
Amanhã ou depois,
e ainda depois,
e mais um pouco (ou muito, sabe-se lá)
usarei as palavras que venho treinando,
como um cão que recebe seu osso após um salto.
Encontro-as entre o intervalo do sorriso sem sentido,
e dos cálculos mentais de quanto me renderão.
Aprendi com as mãos calejadas e os pés em sangue,
que o que sou não importa.
O quanto sonhei e o quanto quis que tudo
fosse feito entre soluços de um coração apaixonado,
pelo Outro, por algo que fizesse mais sentido,
do que a propaganda que passa na televisão,
nesse exato momento.
Bonitos. Sorridentes. Felizes?
E o que é a felicidade, afinal?
Eu, que li e leio páginas amareladas de sons distantes,
que já rezei tantos nomes,
e comprei alguns cristais,
e tentei de todas as formas entender a roda do mundo,
não saberia responder qual a equivalência entre o que se chama de felicidade,
e um olhar que honestamente tente me confortar.
Olho o relógio tentando segurar os ponteiros de forma mental,
quem sabe? roubar do tempo e do mundo o que resta:
essa mesa, essas mãos entrelaçadas.
Mas o ponteiro é como o arauto prometido,
disfarçado e cantando entre diversas religiões,
que nunca prometeram arrancar de nós,
o vício pelas lágrimas alheias,
e a satisfação em sentir que os outros sçao outros.
Mas o amanhã é logo ali,
e entre a dissimulação e a sinceridade,
sei que agrada a todos a segunda:
somos vaidosos de sentirmos que
outros se esforçam para nos enganar,
já que afinal, não entenderíamos ninguém mesmo,
se usassem de palavras que significassem a verdade.
Verdade? enquanto a minha paisagem são meus pés,
contorcendo-se para cavar a própria cova,
outros olham para si,
satisfeitos de saberem que,
depois de amanhã,
o que restará é o nada e que somos todos
seu pai, sua mãe e seu filho.
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